terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Por que devemos pescar? (Congresso Jubrac Sul – Parte 5)

(João 21:1-17)

Manhã de domingo. Eu despertei cedo, exatamente às 6 horas já estava preparando o banho, precisava afastar o cansaço, tomar o café e voltar ao congresso. Enquanto me arrumava, percebi que alguns raios de sol começavam a forçar passagem pelas pequenas frestas na janela. Com a correria, ainda não tinha tido tempo de examinar o local, minhas passagens pelo hotel Tourist se resumiam a banho, troca de roupa, oração, leitura, e o sono da noite anterior. Como que respondendo a um convite, fui até a janela, e para meu espanto, ao abri-la, vi o lindo nascer do sol. O cenário era deslumbrante, havia um imenso gramado que se estendia da minha janela até tocar timidamente a margem da represa, que, apesar de tão grande, eu nem havia me dado conta que estava ali. A luz alaranjada do alvorecer refletia entre os galhos de uma árvore solitária no meio do gramado, criando um cenário fabuloso, que prendeu atenção por alguns instantes. Após um generoso café da manhã, me senti atraído para uma conversa com Deus em meio aquela paisagem. Senti que Ele me dizia: “Eu te amo muito! Nunca estará sozinho, pois Eu sou contigo!”. Talvez o cenário à sua volta não seja o mesmo que vislumbrei naquela manhã em Pelotas (RS), mas Deus também te convida para uma conversa a sós, Ele precisa te dizer algo muito importante: “Eu te amo muito! Nunca te abandonarei, onde quer que esteja...” (Jo 3:16 e Mt 28:20).

Retomando o tema do congresso: “Dá-me almas”, e o texto base: “E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.” (Mt 4:19). Diante do que temos exposto sobre “pescar” (ganhar almas para Deus), pergunto: “Por que devemos pescar?”. Por que devemos deixar de nos dedicar unicamente à nossa vida e nos desgastar, sendo rejeitado, questionado, humilhado e maltratado, na esperança de convencer outros do Amor de Cristo?

“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21:15-17)

Começaremos refletindo sobre os tipos de “amor” no Grego Antigo:

Eros (Amor Romântico) – É o Amor da Paixão, dos namorados, dos sentimentos e sensações. De onde deriva as palavras “erótico e erotismo”, o eros está principalmente ligado a atração física, beleza, aromas, toques, desejos e fantasias. Por estar baseado nesses fatores, o eros tende a acabar rapidamente, uma vez obtido o que se deseja. Às vezes o sentimento se torna até repulsivo, como exemplificado no sentimento que Amnom sentiu por sua meia-irmã Tamar, registado em 2 Samuel, capítulo 13. Aminom, após violentar sua irmã, a põe para fora nua e fecha a porta (v. 15-17). Essa história se repete inúmeras vezes, quantas garotas passaram por isso? Seduzidas por declarações e promessas, são levadas ao sexo ilícito, ou até mesmo violentadas, mas, uma vez consumado o ato, são abandonadas como mercadoria estragada. Quantos casamentos foram violados pelos sentimentos mal administrados do eros? – Quantos lares desfeitos? – A fantasia carnal, que sempre termina em dor e sofrimento.

Phileo (Amor Recíproco) – É o Amor da Amizade (Amor Condicional). A palavra “filantropia” que vem do grego (filós+ântropos) significa “amigo do ser humano, da raça humana” (amor pela humanidade/homem genérico). Filantropia e Filadélfia (Ap 3:7) são a mesma palavra no original. Esse tipo de amor foi vivido com muita intensidade entre Jônatas e Davi (1Sm 18:1 e 2Sm 1:26), e, infelizmente mal interpretado por mentes malignas e maliciosas que distorcem esse sentimento para que pareça algo pervertido, esses porém, serão julgados por suas próprias conjecturas (Mt 5:19). A amizade autêntica está caindo em desuso, o medo de ser traído, machucado ou explorado, tem feito muitos se apartarem de amizades (Pv 16:28), contudo, quem conquista amigos autênticos descobre tesouros (Pv 18:24). Jesus foi ferido por seus “amigos” (Zc 13:6), no entanto, isso não o impediu de preservar amizades até as ultimas consequências (Jo 15:13), e de valorizá-las com um alto grau de intimidade (v. 15).

Storgé (Amor Fraterno) – É o Amor da Família (amor de irmãos), da convivência, como no lar de Lazaro, Marta e Maria. Infelizmente, esse tipo de amor também tem se deturpado, se tornado egoísta, se esvaído, como um sinal de alerta, proclamando que está próximo o fim, trazendo à mente as palavras de Cristo: “E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai, o filho; e os filhos se levantarão contra os pais e os matarão.” (Mt 10:21).

Todos esses tipos de amor são limitados, incompletos, de pouca duração. Mas quero falar ainda de outro tipo de amor...

Ágape (Amor Incondicional) – Esse é o Amor de Pai para filho, o amor sem medidas, descrito em 1 Coríntios 13, o Amor de Deus, revelado em João 3:16 “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. O amor que se volta ao próximo, que se foca mais em dar do que receber. Sem se importar com as recusas ama, busca, se importa, cuida... “não busca seus interesses... tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Co 13:5, 7). Entretanto, mesmo o ágape tem sido arrefecido no intimo de muita gente, em exclamação ao Texto Sagrado registrado em Mateus 24:12 “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor (ágape) de muitos se esfriará.” (grifo do autor).

Por que devemos pescar?! Por que amar? Por que nos doar em favor de outros?

Você já reparou que muitos casamentos parecem entrar em crise logo nos primeiros momentos de convivência mutua. O que acontece depois de dizer sim? – O que começa com uma paquera, cresce no namoro, aumenta no noivado, se expande até o casamento, parece decair no exato momento que dizemos “sim”. O que termina? – A resposta é “a conquista”. Quando dizem “sim” no altar, principalmente os homens, são invadidos pelo “sentimento de posse”, como se já fossem donos e não houvesse mais nada a fazer. “Já passei para o meu nome”, como exclamam alguns. Acaba-se a conquista, não é mesmo?! Afinal, estamos casados. Para que nos dedicarmos mais? Não bastaram as flores que dei no namoro, o cortejo, os passeios, as palavras bonitas... E a lua de mel?! Custou uma grana preta! Não preciso mais dizer que a amo, ela já sabe! (será?). Veja o conselho de Pedro, o pescador de almas: “Igualmente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações.” (1 Pe 3:7). “Vaso mais fraco”, sabe o que quer dizer? – Quer dizer que as mulheres precisam de “reafirmação”, precisam ouvir muitas vezes: “Eu te amo!”. E não se resume em palavras. O Dr. Gary Chapman, um dedicado pastor, que estudou por muitos anos o que chamou de “linguagens de amor”, identificou que os seres humanos entendem o amor de cinco maneiras diferentes: Palavras de Afirmação (elogios), Tempo de Qualidade, Presentes, Atos de Serviço e Toque Físico. Em seu livro “As Cinco Linguagens do Amor” ele explica:

Palavras de Afirmação – É o tipo de linguagem onde as pessoas entendem o amor através de expressões verbais. Elas necessitam ouvir que são amadas, que são estimadas, que são importantes e que têm valor. Provérbios 18:21 diz: “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”. Como se sente ao ouvir algo do tipo: “Você ficou elegante com este terno” – “Você ficou ótima com este vestido” – “Você fez um ótimo trabalho” – “O jantar estava delicioso”. Talvez para você seja apenas palavras, mas para algumas pessoas isso é “amor”. Imagine seu chefe dizendo as seguintes palavras após você concluir um trabalho: “Vi como se esforçou para realizar este projeto e quero que saiba que valorizo sinceramente aquilo que fez...”. As palavras tem poder, saber utiliza-las como forma de amor chega a ser um dom, quantas pessoas, contudo, foram feridas por palavras (Rm 3:13, Tg 3), mas, como em uma via de duas mãos, muitas foram restauradas por palavras de sabedoria (Sl 37:30, 68:11, Is 52:7). Quando Jesus perguntou se seus discípulos queriam deixa-lo, como fazia a multidão, Pedro respondeu de pronto: “... Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna;” (Jo 6:68). Retomo as palavras do sábio rei Salomão, que inspirado pelo Espírito Santo declarou: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra.” (Pv 12:25).

Tempo de Qualidade – Significa dar à outra pessoa nossa atenção exclusiva. Para uma criança pequena: é sentar-se com ela ao chão e brincar de bola, para o cônjuge: é sentar-se no sofá e olhar em seus olhos enquanto conversam... Atenção exclusiva, passar tempo com alguém que amamos. Como escreveu Max Lucado: “crianças soletram amor com cinco letras – t-e-m-p-o”.

Presentes – Dar presentes é uma expressão universal de amor. Para o que tem esse tipo de linguagem, os presentes não precisam necessariamente ser caros – “estava pensando em mim, veja só o que comprou”. Eles expressam a quem os recebe que são valorizados e amados. Reparem como desembrulham o pacote com todo cuidado para não rasgar o papel. Tem pessoas que guardam presentes em suas embalagens por muito tempo, para que não se estraguem, alguns nem ao menos os usam, não porque não tenham gostado, mas por desejarem prolongar o sentimento de amor pelo qual foram envolvidos ao receberem.

Gestos de Serviço – Como expressa um antigo ditado: “O que você faz fala mais alto do que o que você diz”. Realizar algo que você sabe que a outra pessoa gostaria que fizesse é uma expressão de amor. Quando falo em “gestos de serviço”, não consigo pensar em exemplo melhor do que o da mulher pecadora, registrado no Evangelho de Lucas. Ela ungiu a cabeça de Jesus com seu melhor perfume, lavou seus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos (Lc 7:36-50). O Mestre reconheceu a atitude daquela mulher como a demonstração abundante de amor (v. 47). Ajudar em casa, no trabalho, na igreja, até mesmo em pequenas tarefas, pode ser uma boa oportunidade de expressarmos amor. Estender a mão ao aflito, servir ao próximo, doar-se, foram atitudes que marcaram a vida de Tabita (At 9:36-42) e, por sua demonstração de tipo de amor, Pedro comovido, roga a Deus, que lhe devolve a vida.

Toque Físico – Há ainda, aqueles que entendem o amor através do toque suave das mãos em forma de carícias, de abraços e beijos, Paulo enfatizou este ultimo em sua epistolas (Rm 16:16, 1Co 16:20, 2Co 13:12 e 1Ts 5:26), e Pedro o chamou de “osculo de amor” (1Pe 5:14). Quem não gosta de um bom cafuné? E que tal uma massagem? – Os grandes amantes do toque físico são chamados de sinestésicos – Gostam de conforto, abraços, beijos, e até mesmo um aperto de mãos, pode fazer toda diferença. Embora alguns achem chato o momento em que alguém do púlpito pede para abraçar a pessoa ao lado, existem aqueles que estão tão carentes de contato humano, que esperam ansiosos por chegar o domingo, para poder receber um abraço afetuoso de um irmão. Certa vez um irmão de minha igreja testemunhou, depois de ter passado um momento muito difícil, que os abraços que recebia na igreja, deram-lhe forças para atravessar tal dificuldade. Ficou com vontade de abraçar alguém? Então faça isso, pois essa pessoa pode estar com o “tanque emocional” totalmente vazio.

Mantenha cheio o “tanque emocional” de quem ama! Pratique as linguagens de amor. Descubra com qual se identifica mais, e também a linguagem de seus familiares, de seus irmãos, de seu próximo. Ministre amor, reparta com as pessoas, não te custa! Mas pode fazer toda diferença na vida de alguém.

Por que devemos pescar?!

Vamos voltar à história do pescador (não disse história de pescador). Para entender o diálogo entre Jesus e Pedro (João 21:15-17), precisamos relembrar um pouco a história. Em Mateus 4:19, Pedro é desafiado a largar tudo e seguir a Jesus, a proposta sugeria uma mudança de “profissão”, deixar os peixes e se dedicar às pessoas: “E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”. Simão atende de pronto, abandona as redes, o barco e tudo mais, como ele mesmo declarou: “Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós?” (Mt 19:27), eu o convido a refletir mais tarde na resposta de Jesus (Mt 19:28-29), mas por hora vamos seguir com Pedro, que parecia o mais convicto dos discípulos, pois mesmo quando o discurso de Cristo se tornou duro, revelando todo o sofrimento que passaria, o pescador insistia em segui-lo: “Então, Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. [...] Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.” (Mt 26:33). Jesus joga um “balde de água fria” em Pedro com esta declaração: “Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.”, mas ele persiste: “Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, não te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo”. O pescador parece muito seguro em suas afirmações de fidelidade ao Mestre. Lucas registrou a seguinte afirmação de Pedro: “... Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte.” (Lc 22:33). Foi também o doutor Lucas quem registrou, alguns versos a frente, detalhes do momento em que Pedro negou Jesus: “Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo.” (v. 61). Acredito que olhar de Cristo penetrou na alma de Simão como uma espada aguda e afiada, cortando a carne a sua volta e deixando uma ferida aberta. Pedro chorou amargamente (v. 62), pois não era somente a dor de tê-lo negado, era também a dor da vergonha, da impotência, da mentira, a dor do fracasso, pois ele sabia que Jesus, o Mestre a quem jurou fidelidade, conhecia sua fraqueza e não ignorava seu erro.

Talvez seja esse tipo de dor que te destrói. Noite após noite é sua única companheira. Ela ressurge assim que as luzes se apagam, não o deixa dormir. Você errou, grita ela te apontando o dedo indicador. E ao buscar refúgio em sua consciência, as únicas palavras que encontra são: fracasso, fraqueza, incompetência, irresponsabilidade, inutilidade, culpa! Quem sabe não foi esse o motivo que o fez retroceder, assim como Pedro (Jo 21:3). O fez voltar à antiga vida, aos vícios, a pornografia, a mentira, a dor, a morte. Acredito que você entenda porque Pedro voltou a pescar peixes, talvez você também não tenha jeito pessoas, quem sabe as tenha magoado, e agora se esconde, não quer encontra-las, não quer nem mesmo se encontrar com Cristo, não por que não o ame, mas pela vergonha de tê-lo negado. Então você, mais que ninguém, entenderá porque Jesus foi até a praia, pois sabe bem, que alguém nessas condições não tem forças para seguir adiante. Mas Ele foi até Pedro, exatamente como naquela noite em que caminhou sobre as ondas. O vento soprava forte, as ondas eram contrárias, os discípulos não conseguiam remar em direção à praia, mas Ele veio, caminhando tranquilo sobre as ondas (Mt 14, MC 6 e Jo 6), tão sereno como está agora, caminhando em sua direção, sussurrando seu nome. Ouça sua voz suave, ignore por um instante o barulho do mar, não dê atenção às roupas molhadas pela forte chuva, procure não deixar que o frio roube sua consciência. Dessa do barco, como fez Pedro e caminhe sobre as ondas. Então vai ouvir claramente sua voz chamando seu nome, sentirá o calor de sua presença aquecendo sua alma e trazendo-o de volta à vida.

Simão! É Jesus quem está na praia...

Pedro não esperava vê-lo, nem achou que viria, não depois de tê-lo negado. Surpreso se lança ao mar, tentando se esconder, pois estava nu. A nudez de Simão não era somente física, pois todos conheciam seu erro, sabiam de sua dor, de seu fracasso. Ele não conseguiu manter sua a palavra. Pode ser que se identifique com ele, sem poder manter a sua palavra, sem cumprir promessas, sem estar presente quando disse que estaria. Mas Jesus veio encontra-lo, veio cura-lo, veio liberta-lo da culpa e da dor.

Por que devemos pescar?!

Vamos entender melhor o dialogo entre eles, ressaltando as formas de amor no contexto original:

“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me (ágape) mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo (phileo). Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros.” (João 21:15)

Reparem que Jesus pergunta no ágape, e ainda acrescenta: “mais do que esses outros”. Ou seja, Ele pergunta se Pedro o ama incondicionalmente, mas ele só consegue responder no phileo, é como se Jesus dissesse: “você me ama?” e Pedro respondesse: “eu gosto de você”. Esses detalhes não são perceptíveis na tradução que possuímos, pois nosso vocabulário limitado só tem uma forma de escrever a palavra “amor”, embora tenhamos consciência que existem vários níveis.

“Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas (ágape)? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo (phileo). Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas.” (João 21:16)

O Mestre volta a perguntar no ágape, porém desta vez não enfatiza: “mais do que esses outros”, e Pedro mais uma vez responde no phileo, como se não conseguisse afirmar seu amor ao Mestre, sua autoestima foi afetada, não conseguia se apoiar sobre as pernas de sua consciência. Ele colocou sobre os ombros o pesado fardo da culpa, e não permitiria perdoar-se, não sem luta, não sem a grande batalha em seu interior, que por mais que tentasse vencê-la, a culpa persistia em ressurgir das cinzas. E Jesus insiste:

“Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas (phileo)? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas (phileo)? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo (phileo). Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21:17)

Agora podemos entender porque Pedro se entristeceu tanto com a pergunta de Cristo. Reparam que dessa vez Ele pergunta no phileo, como se quisesse descer ao nível do amor de Simão para resgatá-lo. Por mais que Pedro imaginasse ter pouco, ou quase nada a oferecer, Jesus lhe dizia: “me entregue o que tem”. Deixe-me Fazer! Como aquela pobre viúva que vai a procura do profeta Eliseu (2Rs 4), ela só tinha um pouco de azeite, mas com a intervenção de Deus, foi o suficiente para pagar a divida, salvando seus filhos e garantindo o seu futuro. Jesus mudou a linguagem para alcançar Pedro, descendo até onde ele estava (Fp 2:5-8). Talvez você se sinta muito fraco, mas isso não é problema, veja o que o apostolo Paulo descobriu: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2 Co 12:10). Então se levante, junte a pouca força que lhe resta, “Forjai espadas das vossas relhas de arado e lanças, das vossas podadeiras; diga o fraco: Eu sou forte.” (Joel 3:10). Quando Paulo se queixou da dor (espinho na carne) que não o deixava, “Então, Ele (Jesus) me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” (2 Co 12:9).

Por que devemos pescar?!

Quando Deus nos diz algo, isso é importante, quando Ele repete, é importantíssimo, e como devemos considerar quando o Senhor repete mais uma veze. Por três vezes Jesus perguntou: ...tu me amas? - E em cada resposta, afirmava: Apascenta os meus cordeiros, pastoreia as minhas ovelhas, apascenta as minhas ovelhas... Ou seja: Você me ama? Então cuide! – Jesus literalmente diz: “junte todo amor que tem por mim e canalize-o na cuidado ao próximo”, como afirmando: “Eu sentirei seu amor através das pessoas”.

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. [...] Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado.” (1 João 4:7-8 e 11-12).

Por que devemos pescar? – Porque Ele nos amou primeiro (v. 19)

“Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (v. 20)

Ev. Elias Codinhoto

Um comentário:

Elisangela disse...

Mto boa sua explicação sobre as diversas formas de amar. Que vc poste mais sermões como este e que Deus o abeçoe!