quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Morrendo de sede ao lado do poço (Congresso Jubrac Sul – Parte Final)

O congresso foi encerrado em clima de grande celebração. Pela fé, festejamos a grande “pesca” que o Senhor dará, pois é impossível que nada aconteça. Durante dois dias de congresso, nosso clamor foi sempre o mesmo: “Dá-me almas” e, segundo a Palavra de Deus, temos a promessa: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão.” (Sl 2:8). Nossa confiança está sobre “... àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3:20-21).

Ao retornar ao hotel Tourist, assim que fechei a porta do quarto, como se fosse um sopro do Espírito, me ocorreu que poderia ser solicitado a ministrar no culto da noite, embora o congresso tivesse terminado. Apropriando-me das palavras do apóstolo Pedro: “Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados.” (2Pe 1:12), tratei de orar e preparar um esboço. Devemos estar sempre prontos para testificar da esperança que arde em nossos corações (1Pe 3:15). E como é maravilhoso estarmos sensíveis ao Espírito Santo, pois ocorreu exatamente assim, após o louvor, fui chamado a ministrar novamente.

“Tendo-se acabado a água do odre, colocou ela o menino debaixo de um dos arbustos e, afastando-se, foi sentar-se defronte, à distância de um tiro de arco; porque dizia: Assim, não verei morrer o menino; e, sentando-se em frente dele, levantou a voz e chorou. Deus, porém, ouviu a voz do menino; e o Anjo de Deus chamou do céu a Agar e lhe disse: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está. Ergue-te, levanta o rapaz, segura-o pela mão, porque eu farei dele um grande povo. Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água, e, indo a ele, encheu de água o odre, e deu de beber ao rapaz” (Gn 21:15-19)

Agar, a serva egípcia, provavelmente foi oferecida a Abraão como dote pelo próprio rei do Egito, quando ele, com medo de ser morto, se passou por irmão de Sara, e ela foi tomada à casa de Faraó. Porém o Senhor puniu Faraó e a sua casa com grandes pragas, e ele devolveu Sara a Abraão (Gn 12:16-20). Agar não teve escolha, ninguém a consultou antes de manda-la servir a um povo estranho, pois os escravos eram tratados como se fossem mercadorias. Assustada, teve de aprender a falar o hebraico praticamente na marra. Não foi fácil conviver com a saudade da família, ficar distante de quem ama. Ela teve de se adaptar, aprender a cultura, se acostumar com a comida, com as roupas, com a rotina. O ser humano sempre se adapta, alguns se acostumam tanto ao sofrimento, que não se lembram como era viver sem ele, se esquecem da felicidade, de ter alegria. Suas expressões faciais vão emoldurando tanto ao sofrimento, que quase não correspondem mais aos impulsos do cérebro para um sorriso.

Perdendo Sara toda a esperança de ter filhos, entregou Agar por mulher a Abraão, com um plano precipitado e mal concebido, de ser mãe através de sua serva. O que para Agar, foi o renascer da esperança, a grande oportunidade, se tornar esposa do patrão, o homem mais abastado daquela terra. As coisas agora estavam mudando, ela não teria mais que receber ordens, que ser humilhada, quem sabe até mudar alguns costumes, a mobília, suas roupas. E quando teve a certeza de que concebeu, desprezou a Sara, sua senhora (Gn 16:4). Como diz em Provérbios 30:21-23: “Sob três coisas estremece a terra, sim, sob quatro não pode subsistir: sob o servo quando se torna rei; sob o insensato quando anda farto de pão; sob a mulher desdenhada quando se casa; sob a serva quando se torna herdeira da sua senhora”. Mas ela se esqueceu de que o coração de Abraão pertencia a sua esposa, e ele deu a Sara total liberdade para proceder como achasse por bem. Ela humilhou Agar de tal forma, que ela não resistiu e desesperada, fugiu para o deserto. Frustrada e com medo de ser encontrada pelos outros servos, ela parou em um poço, apenas para apanhar um pouco d’água, e prosseguir em sua fuga. Ao se sentar para retomar o folego, sentiu a criança se mexendo em seu ventre, e o instinto materno começou fazer o seu trabalho. “Tenho que protegê-la, mas como fazer isso nesse deserto?” – Ela estava sozinha e apavorada. Você conhece bem esse sentimento, não é mesmo? – Ter os planos frustrados, ver a esperança se esvair, não ter para onde ir. Você também já fugiu. Tentou se afastar dos problemas, da dor, do sofrimento. Mas se viu sozinho e sem auxílio. Ninguém te vê, passam despercebidos por sua dor, seu sofrimento e sua angustia.

O Anjo do Senhor a encontrou junto à fonte de água no deserto e lhe disse: “Volta para a tua senhora e humilha-te sob suas mãos.” (Gn 16). Ele também lhe fez promessas, disse que ela daria luz a um menino e que sua descendência seria incontável. Agar estava enganada, afinal, alguém estava olhando, contemplando sua dor. “Então, ela invocou o nome do Senhor, que lhe falava: Tu és Deus que vê; pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?” (Gn 16:13). O Deus que vê está olhando para você neste momento, Ele conhece sua história, contempla sua dor, conhece seus questionamentos, e ouve sua oração. “Todos os dias” foi o que prometeu Jesus. Não alguns dias ou poucos momentos, mas todos os dias, a todo instante (Mt 28:20), Ele te fez promessas, e te diz: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29:11). Agar obedeceu, voltou para sua senhora, e no tempo determinado deu a luz a Ismael.

Bem, adiantando a história, Agar, com o filho adolescente, está de malas prontas. Pois se cumpriu a promessa do Senhor Deus a Abraão, e Sara finalmente se tornou mãe, e, vendo ela que Ismael, filho da escrava, menosprezava Isaque, seu filho legítimo, pediu ao marido que os mandassem embora. Abraão ainda tentou intervir em favor deles, pois pareceu muito penoso aos seus olhos despedir seu filho. “Disse, porém, Deus a Abraão: Não te pareça isso mal por causa do moço e por causa da tua serva; atende a Sara em tudo o que ela te disser; porque por Isaque será chamada a tua descendência. Mas também do filho da serva farei uma grande nação, por ser ele teu descendente.” (Gn 21:12-13). Assim, o patriarca os envia ao deserto, apenas com um pouco de pão e um odre de água (v. 14).

Com o sol escaldante e o calor do deserto, não demorou muito para a água do odre e a esperança de Agar se esgotar por completo. Ela entregou os pontos e, não era a primeira vez que desistia de tudo, colocou o filho em baixo de uma árvore e se afastou para não vê-lo morrer. Algumas pessoas parecem não saber o que significa perseverança, desistem facilmente, abandonam seus sonhos, se esquecem das promessas e desistem ao primeiro sinal de oposição à suas vontades, elas abrem mão de seus planos e simplesmente se afastam. Agar, em uma ação egoísta, abondou o filho para não vê-lo morrer, ela pensou apenas em si mesma, tentando evitar o sofrimento de ver o filho em agonia de morte, mas o que isso representou a Ismael? O que ele desejava? Será que queria mesmo ficar sozinho na hora da morte? Ela não pensou nele. Até o mais experiente médico observaria, após estar presente nos momentos finais de muitos pacientes, que nenhum deles pedia para ver suas posses, seu carro, seu saldo bancário, porém, a maioria tinha o mesmo desejo, eles queriam ter pessoas ao seu lado na hora da morte, desejavam ver seus entes queridos. O amor verdadeiro não abandona na hora da dor (1 Co 13). Muitos se afastam dos que estão à beira da morte e dos que estão sofrendo, simplesmente viram as costas com a desculpa de que não suportam ver sofrimento. O menino abandonado representa nossos projetos, sonhos e pessoas que deixamos por achar que vão “morrer”, que não vão dar certo, ou por não termos recursos e/ou capacidade.

Certa vez, minha querida esposa, ao preparar uma de suas magníficas guloseimas, acabou adicionando por engano, creme de leite na receita. Eu, que como sempre, estava ansioso para degustar um pudim de leite condensado, fiquei rodeando pela cozinha na expectativa de ser agraciado com algum dos ingredientes, para poder suportar toda ansiedade de um apetite voraz por guloseima, até que o pudim ficasse pronto. Porém, ao perceber que tinha adicionado creme de leite no lugar do leite por engano, ela simplesmente desistiu de fazer o pudim. Eu precisava fazer alguma coisa, ela não podia desistir, não àquela altura, pois eu já estava psicologicamente preparado para saborear o pudim. Então, como qualquer esposo deve fazer para continuar desfrutando de guloseimas, eu sabia meu papel, incentiva-la a terminar aquela maravilhosa obra de arte. – “Querida! De certa forma, creme de leite é leite, apenas acrescente leite e tudo ficará bem”. Argumentei. Para felicidade de todos, finalmente ela concordou, mas, por estar nervosa com a situação, ao invés de leite, acrescentou água. Ela ficou muito chateada, e agora estava mesmo resolvida a desistir. Eu tinha que agir rápido, pois a situação estava crítica, já se imaginou indo dormir sem sobremesa? – “Querida! Veja, o nome já diz ‘creme de leite’, se você acrescentou água, virou leite, está tudo certo, termine o preparo”. Com muita argumentação, finalmente a convenci a mandar o treco para o forno. Ufa! Achei que estava tudo correndo bem, mas, ao passar pela cozinha para observar o pudim (como faz um cachorro em frente a padaria, olhando os frangos assando), percebi que o forno estava desligado. Ela havia desistido. Abandonou o pudim, pois achou que não tinha condições de ficar bom e seria um desperdício gastar o gás para o preparo. Não acreditei no que estava vendo, aquela iguaria preciosa parecia dar os últimos suspiros. Imediatamente religuei o forno, pois ainda havia esperança para um esposo desesperado por guloseimas. Valeu o esforço, pois aquele foi o pudim mais fantástico que minha esposa já fez. Hoje em dia, ela dá a receita para suas amigas. Para nós ficou a seguinte lição: “o pudim sempre fica bom no final” (Rm 8:28). Quando as coisas parecem estar fora de controle, nos lembramos da “lição do pudim” e dizemos um ao outro: “Calma! o pudim sempre fica bom no final”.

De longe Agar chora, está tão aflita que só consegue ver o problema, sua mente não se foca em outra coisa. Ela já havia enfrentado o deserto antes, deveria se lembrar da experiência com Deus, mas só consegue ver o problema. Não é assim que fazemos? Focalizamos tanto nossos problemas que não enxergamos a solução, daí vem alguém que está de fora e diz: “porque não faz assim...”, e nos admiramos com a solução tão simples, estava tão perto, mas por estarmos focados no problema, não conseguíamos ver. Se não fosse o clamor de Ismael, provavelmente teriam morrido de sede ao lado de um poço. Deus ouviu o clamor do menino, diz o texto bíblico, e abriu os olhos de Agar para que enxergasse o poço de água. Note que não houve nenhum milagre, Deus não fez água brotar da rocha, apenas a fez enxergar o poço que estava ao seu lado todo o tempo. Quero dizer uma coisa a você, pela palavra de Deus e por experiência própria afirmo: “sempre haverá um poço”. Não desanime, pois Deus só permitirá que sua água acabe perto de um poço de água (1Co 10:13). Se só ficarmos olhando para o pote vazio, nunca enxergaremos o poço.

Minha esposa é uma pessoa maravilhosa, não conheço ninguém mais meiga e amável que ela. Uma mulher de fé. Embora algumas vezes se aflija nas adversidades, sempre que se acalma consegue achar ótimas soluções, ela sempre encontra um “poço de água”. Na verdade, ela é um precioso poço de águas cristalinas que o Senhor me ajudou a encontrar no deserto. Os poços que encontramos geralmente tem nome, o meu se chama Juliana, e o seu? Em todas as vezes que estive no deserto, sempre havia poços de água, é assim que o Senhor se manifesta a nós, através de pessoas, por meio de sua igreja, o corpo de Cristo. Em Samaria havia uma mulher que também estava morrendo de sede ao lado de um poço, ela ia até o poço todos os dias, e por mais que tirasse água dele todos os dias, nunca se saciava, sempre voltava ao poço, até que encontrou a Fonte Eterna (Jesus), a qual lhe disse: “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.” (João 4:14).

Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. (Ap 7:16-17).

Não morra de sede ao lado do poço, busque em Jesus a água viva, pois por mais difícil que parece seu problema, Ele é a solução, e quer dar vida a seus sonhos, projetos, promessas e entes queridos.

Ev. Elias Codinhoto

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