“Ora,
amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. Quando, pois, soube que Lázaro
estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde estava.”
(João 11:5-6)
Ele os amava e se demora a ir
socorrê-los?
A ressurreição de Lázaro tem alguns
aspectos muito peculiares. Não é como as demais registradas na Bíblia. Em
primeiro lugar: Jesus nunca havia recusado ou se demorado a atender a um pedido
de socorro, nem mesmo de um oficial romano que representava o império que
oprimia seu povo (Mt. 8:5-13, Lc. 7:1-10).
Em segundo lugar vem o intervalo de
tempo entre sua morte e ressurreição. A filha de Jairo (Mc. 5:35), assim como
as ressurreições registradas no Velho Testamento: o filho da viúva de Sarepta
(1Rs. 17:17-24), o filho da Sulamita (2Rs. 4:18-21), o homem que foi lançado
sobre os ossos de Eliseu (2Rs. 13:21), todos esses tinham acabado de falecer.
Mesmo o filho da viúva de Naim (Lc. 7:11-15), que já seguia em cortejo fúnebre,
não permaneceu morto tanto tempo, pois uma viúva pobre não dispunha de recursos
para preservar o corpo por muitos dias. Provavelmente, ele estava sendo levado
ao sepultamento no mesmo dia ou no dia posterior a sua morte. Nem Cristo ficou
esse tempo na sepultura (Mt. 16:21, 17:23, 20:19... At. 10:40 e 1Co. 15:4), mas
como profetizou Oséias: “Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia,
nos levantará, e viveremos diante dele.” (Os. 6:2). Lázaro esteve morto por
quatro dias. “Parece que havia uma opinião geral no judaísmo que a alma deixa o
corpo três dias após a morte” (Bíblia Shedd).
Em terceiro vem à demora. Você sente ou
já se sentiu abandonado por Deus? Parece que Ele não ouve suas preces, e não há
nenhum sinal de resposta? – Creio que foi esse o sentimento de Marta e Maria.
Abandono. Mas a “demora” não é o mesmo que abandono, não na ótica de Deus.
Preste atenção na resposta de Jesus: “Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta
enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho
de Deus seja por ela glorificado.” (Jo. 11:4). Cristo viu aquela enfermidade
como uma oportunidade de glorificar a Deus Pai.
Por último vem o conformismo. Mesmo
estando tristes, as irmãs de Lázaro se mostraram conformadas com a morte do
irmão. Elas já tinham aceitado como perda e fato consumado. Não estou dizendo
que não devemos aceitar as perdas em nossas vidas, pelo contrário, saber
administrar isso é sinal de maturidade, no entanto, o conformismo apresentado
aqui vem de uma fé limitada. “Senhor, se tu
estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo. 11:21 e 32), foi essa a
exclamação das duas irmãs, como se fosse combinado. Elas provavelmente
conversaram a respeito, e juntas chegaram à conclusão que se Jesus tivesse
vindo mais cedo o irmão estaria com vida. A limitação da fé daquelas mulheres
se limitava a cura da enfermidade, não acreditavam que para Deus não há
impossível. O texto mostra que não apenas elas, mas toda multidão que se reuniu
ali tinha uma visão limitada a respeito do poder do Filho de Deus: “E alguns
deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que
este não morresse?” (v. 37). Todos tinham perdido a esperança.
E como está a sua fé? Até
que ponto ela vai? Qual o seu limite?
Para os amigos de Jairo, e
provavelmente para ele, o socorro a sua filha se limitava ao período de
enfermidade (Mc. 5:35). Se sua fé também está limitada, aproprie-se desta
resposta: “Mas Jesus, sem acudir a tais palavras, disse ao chefe da sinagoga:
Não temas, crê somente.” (v. 36).
Muitas vezes, e na maioria
delas, devido a nossas expectativas, limitamos a ação de Deus em nossas vidas,
pois criamos um “cenário” em nossas mentes, no qual esperamos que Deus aja, e
quando as circunstâncias ultrapassam esses “limites”, geralmente perdemos a
esperança. Contudo, às vezes é necessário que algo “morra” primeiro. Seja um
sonho, ministério, relacionamento, bem... Como afirmou Jesus: “Em
verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer,
fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto.” (Jo. 12:24).
Permita-me fazer duas aplicações
práticas ao texto. Em primazia o que diz respeito a nossa fé, pois creio ser o
mais importante: cremos na ressurreição dos mortos, “Muitos dos que dormem no
pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e
horror eterno” (Dn. 12:2), independente do tempo em que tenham morrido. Todos
ressuscitarão, os apóstolos, os reis, os antigos profetas e até mesmo Abel, o
primeiro a morrer. Não importa o estado de seu cadáver, o tipo de sua morte, se
foi no mar, nas montanhas ou no fogo, todos ressurgirão. Como argumenta Paulo
em 1 Coríntios 15, se os mortos não ressuscitam, nossa fé é vã, se torna inútil
crer, “...Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã
morreremos.” (v. 32). “Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que
corpo vêm?” (v. 35) “Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o
corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita
em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural,
ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.”
(v. 42-44).
Como profetizou Isaías: “Os vossos
mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os
que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida,
e a terra dará à luz os seus mortos.” (Is. 26:19). “Porquanto o Senhor mesmo,
dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de
Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois,
nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre
nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com
o Senhor.” (1Ts. 4:16).
“Eis
que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos
todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta.
A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos
transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando
este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se
revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita:
Tragada foi a morte pela vitória.” (1 Coríntios 15:51-54).
A segunda aplicação se refere a nossa
esperança, quando ela se dissipa, quando não resta mais fragmento algum.
Quantos sonhos estão enterrados, quantas promessas esquecidas. O que parecia
tão real um dia, hoje é apenas vestígio em sua lembrança. Os seus dons, seu
chamado, ministério. Seu relacionamento conjugal, seus filhos, sua família.
Mesmo que esteja tudo “morto e sepultado”, Deus pode trazer de volta a vida.
Ainda que você não saiba como, que não veja possibilidade alguma, ainda assim,
Deus pode fazer.
“Chegando Jesus, encontrou Lázaro já
sepultado, havia quatro dias.” [...] Tiraram, então, a pedra. E Jesus,
levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste.
Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão
presente, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou em
alta voz: Lázaro, vem para fora!” (João 11:17; 41-43).