sexta-feira, 19 de novembro de 2010

CIRENEU

“E, como o conduzissem, constrangendo um cireneu, chamado Simão, que vinha do campo, puseram-lhe a cruz sobre os ombros, para que a levasse após Jesus.” (Lc 23:26)

Muitos afirmam que Ele caiu. Até podemos assistir a cena em filmes que contam sua História. Na maioria delas Jesus cai em câmera-lenta com o peso da cruz, esta, sempre ilustrada de madeira maciça e robusta, talvez para expressar quão pesados sejam os pecados da humanidade. Até em letras de canções ouvimos dizer: “subiu tropesando e caiu com o peso da cruz...”. Você pode até se espantar em saber, mas nenhum dos Evangelhos diz que Ele caiu ao carregar a cruz. Ao que parece, Ele nem ao menos tropeçou no percurso até ao Golgota, o Lugar da Caveira (Mt 27:33). Porém, é justamente em uma de suas “quedas”, que geralmente colocam à figura de um cireneu, o qual ajuda Cristo a se levantar, e divide com Ele o peso da cruz. Mas é interessante notar que os escritores sagrados (com exceção do apostolo João, que parece não ter notado a tênue figura), dão a entender que Simão o ajuda com a cruz desde a saída para o Golgota (João, porém, parecia só enxergar o Salvador, sua cruz e sua missão: “Salvar o Mundo”).

Mas ele realmente existiu? – Sim! Sabemos até seu nome: “... Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo...” (Mc 15:21). Seus filhos são mencionados, o que é estranho, pois o comum era citar o nome do pai para identificar alguém na cultura daquela época. Era como se ele deixasse aos filhos a herança daquela cruel experiência.

Todas as vezes que Simão erguia a cabeça, não podia deixar de fixar os olhos na execrável figura a sua frente. As costas feridas sangravam, sobre sua cabeça uma coroa, ainda que, de espinhos, testificava que Ele é Rei. Seu semblante desfigurado refletia a perfeita expressão do texto de Isaías 53:

“Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido, mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes e pela transgressão do meu povo foi ele atingido.” (Is 53:2-8)

Imaginem um prisioneiro no “Corredor da Morte”. Digamos que na véspera de sua execução ela pegue uma pneumonia e seja levado ao hospital. Agora se coloque no lugar de um médico, parado ao lado daquele corpo febril, administrando os antibióticos, na esperança que façam efeito e seu paciente melhore. Mas que de vale seu trabalho? Pois assim que ele melhore, caminhará para morte. Poderia ser esse o sentimento do cireneu ao “ajudar” Jesus Cristo? – O momentâneo alívio ao dividir o fardo da cruz, não o conduzia Jesus a morte? A cada passo de Simão, a força empenhada, o suor, talvez lágrimas, fazia dele um acólito companheiro que conduz a arma para uma execução. Será que valeu a pena ajudar?!

O filho insistia com a mãe: “me deixe ir ver ele mamãe, é meu melhor amigo!”. Mas a mãe retrucava: “para que quer ir lá? Ele está muito mal, vai morrer, você ficará impressionado!”. Porém de tanto insistir a mãe permite. Algum tempo depois o filho volta enxugando as lágrimas e dizendo: “ele morreu mesmo, mamãe”. Então ela histérica grita: “não te disse para não ir?! – E então, valeu a pena?” – ao que o filho responde: “valeu sim mamãe, quando cheguei à UTI, ainda pude ouvi-lo dizer: ‘eu tinha certeza que você viria’”. (autor desconhecido).

Fico pensando: será que Simão conseguiu ficar lá assistindo a morte de Jesus? – Eu acredito que não. Creio que ele, assim que colocou a cruz ao chão e foi liberado, correu para casa e foi se lavar, esfregando e enxaguando-se por varias vezes. Como se isso pudesse remover marcas de sua mente. Mas seria impossível esquecer!

Jesus levou muito mais que uma cruz, como disse o apostolo Paulo: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1:13-14).havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2:14). Como profetizou Isaias: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si;” e “...o castigo que nos traz a paz estava sobre ele”.

Vale a pena ajudar? – Pessoas caminham para morte todos os dias. Pobres, drogadas, feridas, desprezadas, violentadas, abandonadas, insanas; ricas, caretas, saudáveis, acolhidas, protegidas, acompanhadas, intelectuais. Todas seguindo para o mesmo fim, a morte. Vale a pena ajudar? – o Cireneu diz que sim... “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25:40).

Manhã de domingo. Algumas mulheres foram até ao sepulcro, elas pretendiam preparar o corpo de Cristo, pois no sepultamento apreçado, pouco tinha sido feito por José de Arimatéia (Mt 27:57-60), o corpo porém, não estava lá. Quem o teria levado? Perguntavam-se as mulheres. Então um anjo do Senhor lhes responde: “Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. É como vos digo!” (Mt 28:5-7). E quanto ao Cireneu? - Creio o avisaram! Não permitiriam que Simão convivesse com a agonia daquela obscura sexta-feira. Pois na gloriosa manhã de domingo, Jesus ressuscita dentre os mortos. Os discípulos souberam, as Marias sabiam, Tomé foi avisado, o apostolo Paulo afirma que Ele foi visto uma vez por mais de quinhentos irmãos (1Co 15:6). Alguém o avisou. Eu realmente creio que a notícia de que Cristo vive chegou até ele. Sim! Certamente alguém o avisou. Não sei bem como se faziam na língua e cultura dos cireneus, mas imagino que ele deve ter soltado algum tipo de “uhuuuu!” ou “yes!” em comemoração. Posso até vê-lo saltando de alegria...

Eu pergunto a você leitor: vale a pena ajudar aqueles que caminham para morte? Talvez você questione: “mas não é como ajudar a Cristo?!”. Jesus diz o contrario: “...Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25:40). Ele capta o amor através do “uns aos outros”. Ajudaríamos a Cristo? – A resposta está relacionada na forma como tratamos uns aos outros.

“Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.” (Mt 25:35-36)

Ev. Elias Codinhoto

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