terça-feira, 17 de junho de 2008

Saudades do Egito


“Toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto; disseram-lhes os filhos de Israel: Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do SENHOR, na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão”. Êxodo 16:2-3

Ela finalmente está livre. Não havia mais o metal gelado das grades da cela a sua volta, podia novamente caminhar livremente pela rua, ir aonde quisesse, a pena foi cumprida. O que chamava a atenção naquele noticiário não era o senso de justiça clamando por mais anos de prisão, e sim a fato daquela mulher querer voltar à prisão. Paula Portocarrero comenta em seu blog: “Que medo tem essa mulher de assumir a realidade. Ela prefere voltar à prisão a encarar suas novas opções, pois considera que fora de lá ela não seria capaz de gerir a própria vida”. Outro caso parecido aconteceu com um preso britânico que fugiu da prisão e voltou três dias mais tarde, porque a vida era mais fácil lá dentro. Wesley Crawford, de 42 anos, desapareceu da prisão em regime aberto de Sudbury, após três dias em fuga, aborreceu-se e decidiu voltar. “Não podíamos acreditar. Vir bater à porta a pedir para voltar é incrível”, afirma uma fonte prisional. Na prisão aberta de Sudbury, em Derbyshire, o recluso tinha direito a três refeições por dia com opções à escolha e televisão no quarto, que nunca estava trancado. A prisão oferecia ainda bilhar, tênis de mesa e um ginásio.
É sempre difícil lidar com as mudanças, mesmo quando elas nos são favoráveis. Geralmente permanecemos na chamada “zona de conforto” e, essa posição nos restringe, pois é mais cômodo deixar as coisas como estão. Quando somos pressionados a mudar, é natural que ao primeiro sinal de dificuldade sintamos desejo de retornar à zona de conforto, aprender a lidar com isso se torna uma grande virtude, pois no mundo globalizado atual, as mudanças estão sempre presentes e constantes, se torna imprescindível saber lidar com elas. Há ainda outro sentimento, muito parecido com o descrito aqui, alguns o chamam de “saudade do Egito”; está relacionado ao sentimento do povo de Israel diante das dificuldades enfrentadas no Êxodo (libertação de Israel do cativeiro no Egito). Fazem esta distinção por não se tratar de uma simples mudança, e sim, de uma nova vida, é o nascer de novo descrito por Jesus em João 3, ou seja, o cristão imaturo que diante dos desafios da vida cristã sente o desejo de retornar a vida sem Deus. Vive se queixando das dificuldades e, não consegue concentrar sua fé no Autor da Vida, lhe falta à convicção de vida que tinha o apóstolo Paulo: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). W. J. Watterson comenta: “No deserto, Israel estava separado do Egito, mas com saudades. Não podiam voltar, mas queriam. Onze vezes lemos desta saudade do Egito. Depois de Josué cap. 4, porém, nunca mais Israel teve saudade do Egito, pois agora estavam na sua pátria, na terra que Deus lhes deu. Agora não podiam mais voltar (como no deserto), mas melhor ainda, não queriam voltar!”. Lua afirma em seu Blog (http://pericorese.blogspot.com/) “Vir após Cristo significa acompanhá-lo de perto (contraste com Mt 26.58), não importando quais serão as implicações dessa decisão. Por muitas vezes a caminhada é árdua, pois as dificuldades encontradas no caminho não se restringem exclusivamente às condições geográficas do clima árido. Somente a certeza das coisas do porvir nos dá força para continuar a corrida para o alvo. O povo no deserto não tinha essa certeza e nós, por muitas vezes, vemos nossa fé, assim com a deles, abalada. O resultado disso é a saudade do Egito, saudade do velho homem em pecado, saudade, como vemos em Nm 11:5, dos peixes, dos pepinos, dos melões, dos alhos e das cebolas”.
Saiba que há um tempo determinado para todas as coisas (Ec 3), não sofra por antecipação, quando vier as mudanças, procure se adaptar a elas, não tenha medo dos desafios, muito menos da liberdade que temos em Cristo. Não volte ao “Egito”, por mais que as coisas possam parecer difíceis, Cristo já o capacitou para esse momento (1Co 10:13). “Não são os mais fortes da espécie que sobrevivem, nem os mais inteligentes, mas sim os que respondem melhor e mais rapidamente às mudanças” (Charles Darwin).

“Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. Apocalipse 2:10
Ev. Elias Codinhoto

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